Toxidade ambiental e saúde humana

De acordo com a definição da OMS, “saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença”. É precisamente essa ausência de bem-estar que caracteriza o homem moderno. Esse mal-estar generalizado conduz-nos a um sofrimento indefinido que podíamos definir como uma síndrome do homem envenenado por um lado e do homem estressado por outro.

Cada dia que passa estamos mais expostos a centenas de novas substâncias tóxicas, denominadas Xenobióticos (1), quer estejamos dentro ou fora de casa. A contaminação ambiental é produzida principalmente pelos centros industriais e agrícolas. Tóxicos como dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dioxinas, benzeno, benzo-alfa-pyrene (combustão dos escapes dos veículos, fumaça de fábricas e lixeiras). Esta última merece uma nota à parte, devido a sua alta capacidade destrutiva. Por outro lado, temos os metais pesados como cádmio, mercúrio, alumínio e chumbo, que podem produzir danos que afectam quase todos os órgãos e sistemas do nosso organismo. Talvez de todos eles, os mais preocupantes são o chumbo e mercúrio, devido a sua omnipresença.

Setenta por cento do chumbo que ingerimos vem através da poluição atmosférica produzida por veículos (utilizado nos combustíveis dos automóveis como agentes anti-detonantes), na água da torneira com canalizações de chumbo ou ao consumir bebidas ou frutas enlatadas; além disso, o chumbo é ingerido também através dos alimentos tratados com pesticidas (arseniato de chumbo) ou ao consumir frutas e legumes cultivados em áreas próximas das estradas de grande movimento. Uma intoxicação crónica deste metal produz fraqueza, insuficiência renal, dores de cabeça, anemias, distúrbios neurológicos, problemas comportamentais, baixa capacidade de concentração e de memória (principalmente em crianças e adolescentes).

Outro dos tóxicos que deve merecer a nossa preocupação e cuidado é o mercúrio. São numerosos os estudos toxicológicos e epidemiológicos publicados em revistas científicas, que demonstram o efeito deste metal na saúde. Segundo uma investigação da Universidade de Tubingen, na Alemanha, feita com base na recolha de 20.000 mostras de saliva, as doses de mercúrio são 100 vezes mais elevadas do que as toleradas. Este metal ao penetrar o nosso organismo pode induzir estados patológicos muito variados, desde alergias até espasmo filia, depressões, fadiga crónica, além de outras disfunções do sistema nervoso. O primeiro responsável pela presença deste metal é as amálgamas dentárias. Dentro da política global de protecção ambiental e sanitária, a Suécia aparece-nos como o primeiro país europeu a prevenir o uso da amálgama dentária.

Dentro de casa temos o formaldeido (usado nos móveis, cortinas etc.), partículas de gás propano, monóxido de carbono, lixívia, alumínio (na água da rede, produtos de beleza e medicamentos). Quase toda a alimentação convencional se encontra repleta de nitratos (2), pesticidas e aditivos. As frutas e legumes contaminados com pesticidas organo clorados e insecticidas xeno-estrógenos (3) interferem no metabolismo hormonal assim como na espermatogênesis. Realizaram-se na Holanda, pesquisas com pessoas que consomem apenas produtos biológicos e estas revelaram não haver qualquer diminuição da fertilidade. A carne e produtos lácteos estão contaminados hoje em dia com antibióticos, hormonas de crescimento, dioxinas etc. O modo de preparar os nossos alimentos é também fonte de toxicidade, como por exemplo, quando fritamos com óleos impróprios a suportar temperaturas altas, quando usamos carne ou peixe defumados ou torramos o pão ou café. Tudo isso produz uma substância altamente cancerígena: o benzo-alfa-pyrene. Este hidrocarboneto poli cíclico aromático é o responsável de primeira linha pela formação do cancro do pulmão, esófago e cólon, de acordo com estudos realizados nos anos 80 pelo Dr. Ames, nos EUA.

Para sobrevivermos a toda essa agressão química, o nosso organismo possui um intrincado mecanismo enzimático que elimina estas substâncias. O órgão que tem este importantíssimo papel é o fígado. O fígado possui um sítio específico na membrana intercelular – retículo endoplasmático – onde as substâncias tóxicas transportadas pelo sangue são absorvidas pelas células hepáticas. Antes que elas sejam removidas do organismo pelo sistema excretório (rins ou cólon) devem primeiro ser bio-transformadas e bio-inactivadas em substâncias menos tóxicas e mais solúveis em água. Esta primeira fase de limpeza que o fígado efectua chama-se activação ou oxidação. O problema nesta fase é que algumas substâncias podem transformar-se em radicais livres, quer dizer, em moléculas altamente reactivas perigosas para o sistema imunitário, chegando a causar danos irreversíveis nas membranas celulares, podendo dar origem a cancro. Por isso existe uma segunda fase de limpeza: a conjugação em que, através de enzimas anti-oxidantes (tais como o glutatione-s-transferasa, o SOD e outros), o fígado encarrega-se de neutralizar a produção de radicais livres. Contudo, quando o nosso organismo se sobrecarrega de tóxicos, quer por exposição crónica, quer por lentidão ou deficiência desses dois processos, ele começa a acumular perigosamente estes venenos nos nossos tecidos gordurosos, especialmente nos do cérebro e nas células nervosas de todo o corpo. Podem também surgir situações de depressão, cansaço e falta de memória, que já abordamos anteriormente.

Através de experiência pessoal e muitos anos de prática terapêutica, chegámos à conclusão de que é possível não só proteger eficazmente, mas também regenerar todas as células hepáticas, através de toda uma série de compostos – os flavonóides – que se encontram em quase todas as plantas hepatoprotectoras e nos novos antioxidantes de
última geração.

O sistema gastrointestinal é a parte do nosso organismo que mais está exposta ao efeito dessas toxinas. Portanto, preservar e fortificar a integridade da mucosa intestinal seria a condição essencial para evitar a sua absorção, mantendo-nos assim longe de qualquer problema de saúde. Ter uma excessiva permeabilidade vai não só aumentar a absorção de substâncias tóxicas externas como também aumentar as internas (endotoxinas), tais como anti-genes e microorganismos que permanecem normalmente no lúmen intestinal, tendo assim esta permeabilidade crónica que contribui ao desenvolvimento de certos problemas do sistema imunitário, disfunções hepáticas e outros.

  1. Este é o termo utilizado para designar todas as moléculas estranhas ao organismo humano, com capacidade de prejudicar o funcionamento normal de todos os tecidos celulares, e em muitos casos causar danos graves.
  2. Os nitratos ao ser ingeridos transformam-se em nitrosaminas, substâncias altamente cancerígenas.
  3. São muitas as substâncias que diminuem a espermatogênesis, quer dizer, a criação de espermatócitos. São os insecticidas organo clorados como o metoxicloro lindano e outros pesticidas como o dibromocloro propano (DBCP) ou os polichlorobifenlis.

Alberto Suarez Chang

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